sábado, 17 de novembro de 2012

A CP - Fim da linha?



A CP é uma Entidade Pública Empresarial (E.P.E.), especializada na prestação de serviços de transporte ferroviário. É desde 2009 uma E.P.E., por força do Decreto-Lei nº 137-A/2009 referente aos Estatutos da CP – Comboios de Portugal. Foi desta forma revogado o anterior Decreto-Lei no qual ainda se denominava a CP como Caminhos de Ferro Portugueses.

Esta empresa é uma entidade detida a 100% pelo Estado português sendo que dispõe de autonomia em relação a este, dentro de um âmbito de Administração Estadual Indirecta. A CP articula-se com outras entidades na prossecução da sua actividade, entre as quais se salientam a REFER, responsável pela manutenção e gestão das infra-estruturas utilizadas, e o IMTT, instituto responsável pela regulação e coordenação da mobilidade dos transportes terrestres.

 Posto isto, temos como dado certo que a CP é uma E.P.E. composta na totalidade por capitais públicos. Desta situação resulta que o Estado possui direitos especiais de controlo sobre ela. O Estado designa os seus administradores através do Conselho de Ministros, e os órgãos da CP têm de prosseguir os objectivos fixados pelo Governo, como decorre do artigo 11º do Decreto-Lei nº 558/99 relativo ao “Estatuto das Empresas Públicas”. O artigo 29º do mesmo Decreto-Lei permite verificar que o Estado tem efectivos poderes de superintendência sobre as E.P.E.’s.  A CP é um monopólio pois é a única empresa que explora os transportes ferroviários e segundo o Professor Freitas do Amaral tal pode ser um motivo para a sua criação.

Passemos agora às verdadeiras questões de interesse desta análise à CP: Será a CP um verdadeiro serviço público? É a CP gerida de forma a ter fim lucrativo? Deve a CP ser privatizada? Poder-se-ia admitir uma concessão deste serviço público a particulares?
Em primeiro lugar, importa definir que o serviço público aqui em causa é o meio de transporte ferroviário que hoje em dia é um dos meios de transporte público mais utilizado. Pela sua importância este será sempre um tema algo delicado e que nunca gerará consenso entre a Doutrina e muito menos entre o público em geral.

Na minha opinião, a CP desempenha um verdadeiro serviço público, e penso que tal é inquestionável devido aos milhares de comboios que as pessoas utilizam diariamente como meio de deslocação. A questão realmente controversa prende-se com a quantidade de greves promovidas pelos trabalhadores desta empresa e que tornam esse mesmo inquestionável serviço público precisamente num serviço algo questionável. Será que se pode considerar a CP serviço público quando várias vezes por mês esse serviço nem é prestado? Não querendo enveredar por este caminho que remete também para questões mais políticas, gostaria só de referir que me parece que tal não devia ser admitido. Mesmo quando são garantidos os tais “serviços mínimos” não me parece que estejamos perante verdadeiro serviço público.

Contudo, na maioria dos dias, deparamo-nos com um serviço público. Quanto à questão de como é gerido esta E.P.E., o Professor Freitas do Amaral refere que as empresas públicas não têm necessariamente de ter lucros, mas que elas devem contribuir para o equilíbrio económico-financeiro do sector público. Porém, como todos sabemos, a CP é uma empresa que ano após ano continua a dar prejuízo (ver notícia nº1 de 2011 em anexo). É esta empresa gerida como uma verdadeira empresa de fim lucrativo? Parece-me que não. A CP é uma empresa que tem problemas estruturais ao nível da sua organização interna, excessos não justificados e que não contribuem de nenhuma forma para o equilíbrio económico-financeiro do sector público.

Como tal, abrem-se então perspectivas de privatização e concessão a particulares. A privatização da CP, para além das óbvias dificuldades de efectivação devido à sua especial situação que não é propícia ao investimento (ver notícia 2 em anexo), enfrenta ainda um problema de índole administrativa. Sendo a CP um monopólio poderia ser algo perigoso convertê-la numa empresa privada. Devido à óbvia questão económica e ainda a esta questão administrativa, penso que a privatização da CP é carta fora do baralho pelo menos por agora. No entanto, está agendada para 2013 a privatização da CP Carga (ver notícia nº3).

Quanto a mim, e depois deste breve estudo, penso que a concessão a particulares seria a melhor forma de actuar em relação à CP pelas vantagens que traria a nível organizacional e administrativo e também pelo facto de o Estado garantir algum poder de controlo, não caindo assim em risco de existir a prática de preços exorbitantes, por exemplo. Mas esta será sempre uma questão em aberto e que me parece nunca poder a vir criar consenso, tendo de ser analisada para a CP não atingir o fim da linha. 

Anexos:


Francisco Felner da Costa

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