“As gorduras do
Estado”
De
acordo com a actual Lei Orgânica do
Governo, o Governo é composto por três categorias de órgãos: o Primeiro-Ministro, os
Ministros e os Secretários de Estado (artigo 1.º da Lei Orgânica do Governo).
Estes órgãos ocupam uma posição equivalente entre si. Há diferenças de natureza
política entre os mesmos, mas não há do ponto de vista jurídico uma hierarquia
(não pode haver ordens/ não é possível uma lógica de obediência).
Quem
actua? O Governo pode actuar a título colegial ou a título individual: Conselho
de Ministros ou Ministro. A regra é a da competência individual do respectivo
Ministro, sendo em última análise a decisão do Ministro, embora este possa
pedir conselhos ao Conselho de Ministros, que desempenha deste modo uma competência
específica (≠ da competência genérica dos Ministros). Quanto aos Secretários de
Estado, estes não têm uma competência própria, têm a competência delegada pelo
Ministro em causa, sendo a delegação de poderes a regra.
Focando
a análise somente a nível dos Ministros. Como se sabe o lugar de cada Ministro
depende da Lei Orgânica do actual Governo. Os Ministros defendem um serviço que
é o Ministério, estando as suas atribuições ligadas com as competências pelas
quais o Ministro é responsável. Assim sendo, em termos estruturais, os Ministérios
exercem as atribuições que cabem aos respectivos Ministros. Em cada Ministério
há um gabinete político que corresponde às pessoas de confiança do Ministro.
Actualmente, há um alargamento do gabinete político, ou seja, cada vez existem
mais assessores e adjuntos do Ministro.Estes auxiliares, em rigor, seriam
dispensáveis, pois tratam-se somente de “personagens” ao serviço do Estado que
gozam de determinadas regalias. No entanto, estes gabinetes políticos vigoram ao
nível de todo o Estado. Esta
situação é a meu ver negativa, pois podemos estar perante a criação de uma
administração paralela, em que entidades estranhas ao Ministério podem exercer
funções administrativas. Aliás, a possível delegação de poderes do Governo aos
membros dos gabinetes políticos revela uma disfunção. Estes gabinetes políticos representam as efectivas “gorduras do Estado”.
Gorduras, no sentido em que estes
seriam dispensáveis para a existência de uma eficácia governativa. Em
curiosidade, uma das medidas da "troika" é, actualmente, a redução destes gabinetes políticos, iniciativa esta que me parece muito positiva, uma vez que seria favorável à austeridade e à racionalidade.
Graça Ribeiro (nº20744)
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